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Maleta Juventudes suscita debate sobre racismo entre jovens

Notícia
27 janeiro 2022
Maleta Juventudes suscita debate sobre racismo entre jovens

O racismo estrutural e o enfrentamento ao extermínio da juventude negra no Brasil, temas de extrema relevância no contexto atual, pautaram as atividades do Centro de Atendimento Intensivo (CAI) Belford Roxo e do Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas), no último ano. Os debates surgiram a partir do recebimento do Maleta Juventudes, uma espécie de compilação do acervo do Canal Futura com foco nas juventudes. A iniciativa foi realizada em parceria com o CIEDS, que, como articulador responsável pelo Estado do Rio de Janeiro, desenvolveu a iniciativa na rede de medidas socioeducativas. Na maleta colorida e personalizada há uma coletânea de programas, documentários, produtos lúdicos e educativos que promovem a reflexão sobre as vivências e participação dos jovens na sociedade, além de um caderno de apoio, com informações do Estatuto das Juventudes.

O conteúdo permitiu a mobilização dos profissionais das salas de leitura e equipes técnicas para o uso como recurso pedagógico com os adolescentes. O objetivo da iniciativa é fortalecer a defesa de direitos das juventudes, tanto pela ótica do jovem, para que conheça o Estatuto das Juventudes e se aproprie de seus direitos, quanto das organizações, que fortalecem a cultura de defesa de direitos humanos. O trabalho, além de informar, é também garantir que a maleta, ao chegar, não fique parada na estante, literalmente.

“Quando chegou o material, achei muito rico. Analisei os temas, pensando no que poderia engajar, que tivesse o perfil dos adolescentes da unidade que trabalho. Eles são ávidos por novidades. Chamou minha atenção um conteúdo do ‘Diz Aí’, cujo tema era Enfrentamento ao Extermínio da Juventude Negra no Brasil. Comecei a ler os textos e foram suscitando debates e pesquisas. São temas transversais ao que é apresentado na escola. Pedi a um professor de teatro que também trabalha lá para assumir esse projeto comigo e fizemos um telecine jornal sobre a temática do racismo”, conta Simone Barros, bibliotecária da unidade.

O resultado foi um material audiovisual que encena a história de um professor que é confundido com um traficante, por carregar um apagador de quadro. Na trama criada pelo grupo, a polícia pensa que o objeto é uma arma e assassina o professor. É narrado ainda o conflito do policial com ele mesmo e com a família, além da trajetória do professor.

“Fizemos várias gravações, simulações e conseguimos envolver muitas pessoas da unidade. Têm cenas do vídeo em que um dos jovens explica sobre racismo estrutural como se fosse um jornalista, contando o caso do professor. Eles realmente interagiram com o material do Maleta Juventude”, conta Simone.

A bibliotecária ainda diz ter aproveitado os webinars realizados pelo projeto, como forma de adquirir mais conhecimento e experiência profissional. “Ouvi especialistas do tema de juventudes do Brasil todo, foi enriquecedor. Às vezes, a gente fica tão permeado pelas situações do dia a dia da instituição… Quando vem alguém de fora e acontece essa troca, especialmente se for alguém que acredita na mudança dos jovens, é muito bom para nós”.

O material ainda conta com um pilar de empreendedorismo, que também foi bem aproveitado pelos alunos. Ela conta que muitos sofrem com baixa autoestima e não têm confiança no futuro. Mas, ao se depararem com o material, puderam enxergar caminhos possíveis para o futuro, em termos de trabalho e renda. 

“Eles não acreditam em si mesmos. Ouvem tanto que são incapazes, às vezes até mesmo da família, que acabam acreditando nisso. A gente está o tempo todo tentando levantar a autoestima deles. [...] O que está por trás de um jovem que está em situação de privação [de liberdade]? Quando você vai ver a situação da família, do nível de vulnerabilidade social, você começa a entender. Teve um jovem que me disse que ele precisou ser preso para ter acesso a esse nível de conteúdo e informação”, conta Simone. E completa: “Sentia falta de mais literatura sobre juventudes. Achei o material muito atual, moderno e rico. Vou continuar trabalhando o conteúdo, mesmo em 2022, por ser tão pertinente”.

Esta foi a segunda edição do CIEDS à frente do Maleta Juventudes no Rio de Janeiro. Na primeira edição, em 2019, o material foi distribuído entre escolas públicas do Estado do Rio. Desta vez, foi entregue a 10 unidades do Degase (de semiliberdade e de privação da liberdade) e a 18 unidades de Assistência Social, sendo 14 CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), responsáveis por adolescentes que cumprem medidas abertas, e 4 URS (Unidade de Reinserção Social), abrigos que acolhem jovens.

Em alguns casos, a Maleta Juventudes chegou em função da rede fomentada pelo CIEDS, por meio da articulação das áreas temáticas de Engajamento Comunitário e de Inclusão e Bem-estar, que faz a cogestão de algumas unidades de assistência social. Há ainda uma integração dessa rede junto a uma rede nacional que mobiliza adolescentes em torno dos direitos preconizados no Estatuto da Juventude, incentivando o protagonismo juvenil.

Mais sobre o Maleta Juventudes

A proposta procura valorizar trajetórias pessoais, projetos de vida e a promoção social das juventudes, reforçando políticas públicas para garantia de direitos fundamentais dos jovens. As linguagens expressivas – o audiovisual, a música, o teatro, a dança, as artes, além de jogos educativos – são elementos fundamentais para a construção deste debate.

Os jovens devem ser considerados na pluralidade de suas manifestações e percebidos como agentes econômicos, políticos, simbólicos e educacionais. E também como parceiros estratégicos e protagonistas em processos e iniciativas que os envolvam.

A Maleta consiste em um kit composto por uma seleção, em DVD, de programas do acervo recente do Futura feita a partir de recortes temáticos, variando de acordo com a reflexão que se deseja estimular, além de indicações de outras fontes, como filmes, documentários e sites. Somam-se ao audiovisual: material impresso inédito; material temático de instituições parceiras; produtos lúdicos e educativos. Tudo isso é reunido em uma mala, customizada conforme o tema em questão.