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Projeto Jovem Monitor/a Cultural e os desafios de atuar no mundo digital

Notícia
1 fevereiro 2021
Projeto Jovem Monitor/a Cultural e os desafios de atuar no mundo digital

No começo de 2020, os programas do CIEDS, devido à pandemia de COVID-19, tiveram que se adaptar ao modo remoto - transferindo as atividades feitas presencialmente para o mundo digital. O Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) foi um desses que teve que fazer grandes mudanças, já que seus eventos eram realizados nos equipamentos públicos de cultura em São Paulo. Suspendendo suas atividades presenciais em março, a equipe do PJMC já tinha um plano em ação para dar continuidade à formação de seus participantes no começo de abril, contando com encontros digitais, aulas online e comunicação constante.

Uma política pública da prefeitura de São Paulo, o Programa Jovem Monitor/a Cultural consiste na formação em gestão cultural para jovens periféricos de 18 a 29 anos. Usualmente, os mais de 300 participantes, número da edição 2020/2021, atuam presencialmente nos equipamentos culturais da cidade além de receberem formações teóricas semanalmente. Divididos em regiões municipais, os jovens recebem apoio de seus agentes de formação, os quais guiam eles e elas durante sua jornada no PJMC. Marcia Aparecida Floriano de Souza é agente de formação da região sul desde a edição 2019/2020, após ter sido jovem monitora cultural nas duas anteriores. Com sua experiência única, ela auxiliou com a adaptação do PJMC para o modo remoto e também presenciou o intenso trabalho da equipe do programa, de maneira a adequarem-se tão rapidamente a essa nova realidade.

Enquanto jovem monitora cultural (JMC), Marcia atuou no Centro Cultural Grajaú e lá suas atividades eram muito diferentes das que seus jovens têm feito neste momento remoto. “A maior diferença que eu percebo é o contato com o público dos equipamentos”, ela conta, narrando que, quando era JMC, teve a oportunidade de organizar a recepção e interagir diretamente com quem entrava no centro cultural, “reconheço que isso é algo que eles sentem muita falta, por isso tento conversar com eles e prepará-los para quando voltarmos”.

No entanto, a pandemia também afetou profundamente seus projetos pessoais, em especial as atividades de seu coletivo: o Travas da Sul. Criado por ela e outras pessoas trans para ajudar a comunidade trans das periferias de Grajaú e Parelheiros, eles não tinham uma infraestrutura sólida no começo da pandemia. Com perseverança para continuarem prestando auxílio, os integrantes organizaram os voluntários, conseguiram distribuir kits de redução de dano e cestas básicas, e também encontraram mais parceiros para ajudar a população trans, além de somente com a alimentação. Algumas das dificuldades que foram presentes nessa adaptação não ocorreram no PJMC, devido ao recurso público e a infraestrutura CIEDS, como celulares institucionais com boa internet que facilitaram a comunicação com os jovens.

Além de comunicação e apoio aos seus JMC’s, o trabalho dos agentes de formação também envolve auxiliar no planejamento das formações e temáticas do programa. “Eu trago uma perspectiva de arriscar caminhos que não são típicos ou normais - mas que, se tentarmos, podem trazer um engajamento formativo benéfico aos jovens”, Marcia traz sobre as suas contribuições a esse processo. Devido a sua conexão com seus jovens e sua experiência como jovem monitora, ela tenta levar à equipe maneiras de envolver ainda mais os participantes, por exemplo a utilização de ferramentas atuais, como memes e plataformas mais jovens, feito o TikTok. Sobre uma de suas propostas, ela narra: “Sugeri que incluíssemos nas formações uma visitação online a algum museu - é importante aproveitarmos esse momento e utilizarmos muitas das ferramentas que a internet tem a oferecer”.

No entanto, ela percebe muitas dificuldades que os jovens enfrentam para continuarem a participar ativamente do PJMC. “Tenho que prezar pela estabilidade e a dedicação às nossas reuniões, mas reconheço a necessidade do jovem estar em circulação e de ter de resolver situações caseiras ou familiares”, ela narra. Além disso, Marcia também sente pelo fato de os jovens não terem a oportunidade de manipular as ferramentas de som e luz ou terem contato pessoal com artistas. “Isso [essa falta de oportunidade] é uma coisa que me pega muito quando falo com os jovens, mesmo que eu não passe para eles - minha função é de acolher todos/as eles/as”, adiciona ela.

Com intenção de integrar seus jovens e dar ainda mais comunidade a eles, Marcia também desenvolveu os Orkontros, uma referência à rede social Orkut, reuniões fora da grade obrigatória do PJMC para conhecer mais deles e eles mais dela. O sucesso de ações como essa e a resposta que ela teve de jovens que já saíram do programa, dão à Marcia uma perspectiva positiva do futuro desse modo remoto. As próprias dificuldades estavam mais presentes no começo do modo remoto, mas agora ela sente que está se adaptando rapidamente às novas ferramentas que aparecem e está no caminho certo - “Estou me adaptando de maneira a conseguir apoiar meus jovens remotamente da melhor forma possível. Agora eu vejo que com esse aprendizado eu consigo qualificar ainda mais a política pública, meu trabalho próprio e as formações teóricas e práticas dos jovens”.