Dandara tem orgulho de falar que tem 37 anos e o motivo é que a expectativa de vida das pessoas trans é de 35. Ela é uma sobrevivente. É atriz por paixão, mas como não consegue viver financeiramente somente da sua arte trabalha como Coordenadora do Projeto Trans+Respeito, que é um projeto de inclusão social de travestis, mulheres trans e homens trans, e é também Assessora de Cultura, ambos pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (Ceds Rio).
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) publicou que, apenas em 2017, foram contabilizados 179 assassinatos de travestis ou transexuais. Isso significa que, a cada 48 horas, uma pessoa trans é assassinada no Brasil. Em 94% dos casos, os assassinatos foram de pessoas do gênero feminino.
Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhague, quando foi aprovada a proposta de instituição de um Dia Internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada. No ano seguinte, o Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 19 de março, por mais de um milhão de pessoas, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça.
1. O que significa ser mulher para você?
Eu passei vários anos tentando compreender as sensações inexplicáveis e irreprimíveis que vivenciava, quando, aos 24 anos, decidi fazer minha transição. Apesar da sociedade marginalizar o meu corpo, deslegitimar a minha vivência, mas eu tenho muito orgulho em dizer que sou uma TRAVESTI! Ser uma mulher travesti é uma resistência diária. O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais do mundo. E essa morte ocorre de variadas formas. O não-diálogo, o não-reconhecimento, a intolerância e a ausência de políticas públicas.
2. Quais as maiores dificuldades para as mulheres no mercado de trabalho atualmente?
Os altos índices de violência contra travestis e transexuais registrados no Brasil tem como uma das causas a vulnerabilidade dessas pessoas ao trabalharem na prostituição, e, indiretamente, um dos maiores obstáculos para transgêneros brasileiros: a exclusão do mercado de trabalho.
A transfobia faz com que a gente acabe tendo como única opção de sobrevivência a prostituição de rua. Estimativa feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), com base em dados colhidos nas diversas regionais da entidade, aponta que 90% das pessoas trans recorrem a essa profissão ao menos em algum momento da vida.
3. Se você pudesse dar um conselho para a Dandara criança, o que diria?
O seu sonho de ter cabelo liso e franjinha você vai realizar, mas só por um tempo, dá um trabalho manter o cabelo liso! Depois de muitos anos eu voltei a nadar e não consegui chegar nem na metade da piscina. E por favor, não desista nunca, a luta vai ser árdua, mas você chega lá!
4. Qual a importância do Dia Internacional da Mulher?
É uma política afirmativa. É uma maneira de destacar e reconhecer a importância e a contribuição do sexo feminino para a sociedade. Acho que hoje nós ainda precisamos disso como um marco para nosso amadurecimento, para reflexão. É importante ser lembrado, ser pensado.