Muito se fala – e se sabe – sobre o potencial transformador do voluntariado corporativo e suas infinidades de potencialização estratégica e impacto de suas ações, mas pouco se fala sobre aqueles que são o objeto de desenvolvimento de tais ações. Se os territórios são o locus da ação voluntária, é por meio das Organizações Sociais e em especial das Organizações de Base Comunitária que este voluntariado derradeiramente acontece.
Para desenvolver este artigo, é importante trazer o conceito que está por trás da formação dos Programas de Voluntariado Corporativo (PVC). Estes programas nascem nas empresas, institutos, fundações ou confederações, como uma das primeiras abordagens no campo da Responsabilidade Social Empresarial, compondo uma resposta interna da organização, em termos de política e ações continuadas com seus públicos de interesse, bem como uma iniciativa de diálogo e engajamento com a comunidade que atuam, no objetivo primordial de construir um olhar territorial integrado, sistêmico e plural, que considere a sua dinâmica, sua própria vivacidade, com e sobre os territórios.
E dentre tantas estratégias que podem ser abordadas por meio do voluntariado corporativo, abordo aqui o fato de esta ação permitir que as empresas e/ou organizações implementem políticas de gestão, comunicação, recursos, direitos humanos e relações com a comunidade que impliquem uma atuação sistêmica. Compõem este desafio dessa integração da empresa à comunidade: 1) os interesses dos empregados, que têm seus corações "tocados"; 2) as necessidades dos territórios; 3) o enriquecimento das políticas corporativas delineadas pela alta direção, uma vez que a chance de sucesso é multiplicada pela soma de novas vozes incorporadas, representando diferentes interesses da e na sociedade.
O voluntariado empresarial refere-se a um conjunto de ações realizadas por empresas para encorajar e apoiar o desenvolvimento de seus funcionários em atividades voluntárias nas comunidades do entorno.
Conceito ETHOS, sobre voluntariado empresarial (1)
Adensando essa questão, o CBVE - Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial, do qual sou parte integrante das ações da secretaria executiva, discorreu sobre o assunto na publicação Comitês de Voluntariado em Ação – Os Territórios Como Locus da Ação Voluntária, trazendo o destaque a este lugar de desenvolvimento das ações voluntárias.
Entretanto, voltamos agora ao objeto deste artigo que busca a compreensão da realização destas ações sobre a ótica de quem faz isso tudo acontecer, que são as organizações sociais. Recentemente, fui convidada para desenvolver uma oficina sobre Voluntariado Empresarial Corporativo no Programa de Trilhas Formativas para o Fortalecimento Institucional de Organizações da Sociedade Civil, uma ação desenvolvida pelo CIEDS - Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável, em parceria com a Brazil Foudation (2). No movimento de desenvolver esta formação, convidei o CBVE para a curadoria deste projeto e me deparei com a primeira questão: desconhecimento do que pensam as organizações da sociedade civil, em especial as organizações de base comunitária, a respeito do voluntariado, uma vez que não há referências bibliográficas, nem estudos sobre o assunto. Desta forma, esta oficina se apresentou como uma oportunidade excelente de iniciar um processo de escuta e, assim, trazer esta dimensão tão importante que é o olhar deste grupo.
O projeto Trilhas Formativas para o Fortalecimento Institucional de Organizações da Sociedade Civil impulsiona e fortalece Organizações Sociais, mediante processo de investimento em formação e acompanhamento técnico, para que possam aperfeiçoar o desenvolvimento dos seus processos de gestão, estruturar sua operação e ampliar seu impacto social no território. Ele conta com a adesão de 29 Organizações da Sociedade Civil, espalhados por doze estados e contemplando todas as regiões do país.
Nos dedicamos, então, a desenvolver um estudo que nos brindou com os seguintes resultados, após a aplicação do formulário respondido por 16 organizações.
O fato de que 77% dos respondentes afirmaram nunca terem participado de alguma formação voltada para o voluntariado corporativo corrobora sobre o dado já apresentado pelo último Censo do CBVE (3), em que somente 59% das respondentes afirmaram estarem desenvolvendo formações às organizações sociais parceiras.
Percebe-se, neste estudo, uma grande receptividade do voluntariado corporativo junto às organizações sociais e inclusive apresenta a fundamental importância para a sustentabilidade dos projetos, uma vez que sua participação pode estar relacionada a grande parte das operações de uma organização de base comunitária. Isso pode contribuir para a ampliação do impacto destas, fato destacado quando vemos que apenas 22% das organizações relatam não possuírem algum tipo de parceria pública, privada ou ambas, e que 73% das organizações já receberam voluntários para apoiar em ações desenvolvidas ou de suporte à organização.
Também preocupa quando vemos que 36% das organizações não atendem à Lei do Voluntariado (4) ao afirmarem que não utilizam do termo de voluntariado para o estabelecimento da ação voluntária, o que pode deixá-las expostas inclusive a questões trabalhistas, e considerando que 68% das respondentes afirmaram possuir voluntários colaborando em suas atividades, com uma média de 9 voluntários por Organização da Sociedade Civil.
Algumas ações realizadas com voluntários corporativos:
- Voluntariado corporativos em escolas municipais de Serra-ES
- Estruturação de bibliotecas comunitárias e plantio de hortas comunitárias
- Voluntários estiveram a frente de missões de pintura, reparo e manutenção de casas atingidas por enchentes
Qual a sua impressão sobre o trabalho voluntário?
- Associação de Mulheres Negras Agbara: "Essencial para o funcionamento do terceiro setor."
- Instituto Naação: "O trabalho voluntário é uma via de mão dupla. O doar em que se recebe, por meio do voluntariado, é possível se desenvolver, enquanto desenvolve o outro. No Instituto Naação, temos grandes exemplos e vivenciamos ricas experiências."
- ACUDA: "Excelente quando encontra pessoas dispostas a fazer a diferença."
- Instituto Metamorfose: "Muito eficaz! Especialmente quando estamos trabalhando em campanhas ou projetos que exigem um maior envolvimento de mão de obra para atender às demandas de crianças e adolescentes."
- Instituto Ramacrisna: "Fundamental para o sucesso das ações, pois complementam os espaços e contribuem com o trabalho e informações importantes para o desenvolvimento dos projetos."
Já teve alguma experiência bem sucedida com voluntariado?
- Labor Educacional: "Alguns voluntários tiveram novas oportunidades profissionais depois de serem voluntários na Labor."
- APAAT: "Voluntários que a partir do trabalho na associação conseguiram vaga no mercado de trabalho remunerado."
- Instituto Recomeçar: "Suporte aos nossos atendidos."
- Associação Elas Existem Mulheres Encarceradas: "O entrosamento da pessoa com a equipe, o engajamento e o carinho com as beneficiárias."
Considerando todos os destaques, fica latente que este é um tema que merece aprofundamento e ampliação de um olhar ainda mais diverso e que contemple um número maior de organizações, a fim de que possamos ser mais assertivos ou afirmativos sobre a visão destas nos impactos das ações voluntárias. Olhar para este estudo e construir a narrativa deste artigo reforçou em mim a necessidade de ampliarmos este diálogo, e, portanto, muito em breve você, nosso leitor, terá novidades e acesso a um estudo mais aprimorado sobre este tema.
“As organizações sociais têm sinalizado seu interesse e necessidade de encontrar espaços e caminhos possíveis para acessar o setor privado de seu território, com o objetivo de construir propostas mais sólidas de parcerias. Observa-se, nessa lacuna de ponto de encontro entre a necessidade de apoio e a potencial ação voluntária corporativa, a necessidade de instrumentalização para que as OSs consigam comunicar melhor sua ação, suas propostas e seu potencial de impacto no território. Ao mesmo tempo, vale destacar que um voluntariado engajado e propositivo também pode ampliar a visão sobre o trabalho desenvolvido pelas organizações, encontrar diferentes formas de contribuir para a qualidade do trabalho realizado por elas, sendo, também, uma via importante de conexão com as reais demandas dos territórios.”
Paula Miranda, coordenadora do projeto Trilhas Formativas para o Fortalecimento Institucional de Organizações da Sociedade Civil
O objetivo é sempre desenvolvermos ferramentas, tecnologias e relacionamentos que possam ampliar a nossa capacidade de impacto e, nesse sentido, convido você a compartilhar este conteúdo a fim de ampliarmos este diálogo e provocarmos que novos olhares possam se incluírem neste movimento.
#gentejuntoéagente
CBVE – Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial
Nós somos uma #rede de empresas, institutos, fundações e confederações conectadas pelo voluntariado e pelo bem que ele promove. Nossos encontros e trocas geram conteúdo relevante sobre voluntariado empresarial que compartilhamos com a sociedade. Inspiramos outras pessoas e organizações a alinharem esforços em nome de um futuro compartilhado que não deixe ninguém para trás. Possuímos 20 entidades associadas e a organização da sociedade civil CIEDS realiza sua Secretaria Executiva.
Para saber mais, acesse o site no link ou envie um e-mail para contato@cbve.com.br
Brazil Foundation
Organização pioneira na filantropia brasileira, há 20 anos atuando como uma ponte entre doadores e organizações sociais que promovem igualdade, justiça social e oportunidade no Brasil. Sua rede global de parceiros e apoiadores contribuem para que as organizações tenham recursos para fortalecer sua atuação e responder às demandas locais. A BrazilFoundation trabalha em estreita colaboração com doadores oferecendo um veículo simples para oportunidades de investimento social.
Gestão responsável e ética de recursos é o seu foco na relação com as iniciativas e organizações apoiadas. Dessa forma, a experiência cultivada junto a organizações reconhecidas pelo impacto social significativo e, a partir daí as oportunidades são criadas.
Para saber mais, acesse o link.
Texto por: Carolina T. Müller, Gerente de Relacionamento do CIEDS e Supervisora das ações da secretaria executiva do CBVE
(1) O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. Conheça mais no link.
(2) Organização que conecta pessoas e instituições que desejam promover equidade social e oportunidades para todas as pessoas no Brasil e organizações da sociedade civil capazes de promover resultados transformadores. Conheça mais no link.
(3) Publicado desde 2015, o #CensoCBVE é uma pesquisa ímpar sobre o estado da arte do voluntariado empresarial corporativo no Brasil. Conheça mais no link.
(4) Acesse a lei no link.