Vandré Brilhante Diretor-Presidente
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Lutar por equidade significa conviver em harmonia com o diferente

Artigo
17 maio 2023
Lutar por equidade significa conviver em harmonia com o diferente

"Apenas a pessoa sob ataque consegue ver a foto completa. Os demais veem apenas partes da foto." Essa frase, dita por Maria Ressa, ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 2021 e CEO e co-fundadora da Rappler, na abertura do 20º Fórum Skoll em Oxford, o qual tive a oportunidade de estar presente no mês passado, me fez refletir muito sobre a discriminação de uma forma geral, em especial dos mais pobres, dos negros, das pessoas com deficiência, dos LGBTQIA+, enfim. Neste Dia Internacional contra a Homofobia, um dos tantos preconceitos que a sociedade impõe contra os ditos diferentes, resolvi trazer essa reflexão, que segue atemporal e pertinente.

Quem somos nós, simples espectadores e também especuladores, para descrever o que é sentir, sofrer e viver a discriminação?  Nossa sociedade brasileira, orgulhosa dos cruzamentos do branco, negro e índio, como é ensinado nas escolas, se comporta a partir da ótica do homem branco, cis, heterosexual e classe média alta.  Ou seja, ignora o diferente.

Se orgulha do filho que tira boas notas e honra os ensinamentos corretos do catolicismo:  trabalhar, casar, comprar uma casa e constituir uma família, como fizeram seus pais. Uma completa alienação que repercute duramente nas vidas de muitos que sequer tiveram a oportunidade de fazer escolhas simples do dia a dia, como escolher o que quer comer, onde estudar ou simplesmente ver e ser visto – aspecto que parece mundano apenas aos privilegiados que têm voz ativa na sociedade.

Nesse sentido, cabe a cada um de nós entender que precisamos ser humildes o suficiente para ao menos escutar o diferente e tentar ver mais aspectos da fotografia. Porque ver o cenário completo, nunca conseguiremos. Enxergamos a sociedade a partir do nosso ponto de vista, por vezes distante da realidade ou carregado de preconceitos.

Mudar a opinião e a ideia das pessoas sobre a discriminação que tanto machuca, maltrata e mata não é uma  tarefa fácil, mas é possível começar. Um primeiro passo é entender que a fome não é uma opção e que ninguém é inferior por sua cor ou orientação sexual.

No nosso Terceiro Setor, também carregamos nossos preconceitos. Nos últimos anos, atuar em favor da justiça social se tornou um movimento em moda – a chamada militância. Parece que "fazer o bem" surgiu há poucos anos e que os mais inteligentes, que tiveram as melhores oportunidades na vida, são os novos e quase únicos benfeitores. Do nada, as pequenas organizações de comunidades e áreas rurais foram colocadas em um último  nível, desapareceram de fóruns e foram excluídas das decisões que de fato importam, na visão dos novos benfeitores. Participar custa caro!

Não podemos assistir a esse movimento sem protestar, sem expor esse preconceito devastador. Temos a obrigação de reconhecer que, se quisermos um futuro melhor, ele deve ser escrito pelas comunidades que mais sofrem os efeitos das mudanças climáticas e da pobreza, por exemplo. Temos que atuar para construir programas de habilitação e facilitação à participação de pequenas organizações e, acima de tudo, criar condições reais de diálogo e desenvolvimento institucional.

É fácil nos auto proclamarmos inovadores sociais, transformadores de vidas e promotores de mudanças sistêmicas. Todavia, se não incluirmos os públicos beneficiários, os menos ouvidos, nesse processo, não haverá futuro melhor e sustentável para todos.

Em resumo, o preconceito surge quando nós achamos que somos melhores do que o outro ou nos colocamos em uma posição também dita melhor. Lutar por um futuro com mais impacto social, equidade e justiça implica colaborar, incluir, ceder, viver e conviver em harmonia com o diferente.