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Investimento social privado e interseccionalidade: Como criar oportunidades reais para quem mais precisa?

Notícia
11 setembro 2025
Investimento social privado e interseccionalidade: Como criar oportunidades reais para quem mais precisa?

O estudo “Novo Retrato da Desigualdade e dos Tributos Pagos no Brasil”, recentemente divulgado pelo Ministério da Fazenda, mostra que os brasileiros mais ricos — apenas 1% da população — concentram 27,4% da renda total do país. Esse dado reforça a urgência de refletirmos sobre como criar oportunidades para quem mais precisa em um cenário marcado por desigualdades históricas e estruturais.

Em 2025, o Grupo Orientador do CIEDS completa 10 anos de existência. Mais do que um espaço de governança, ele se consolidou como um fórum de diálogo estratégico e intersetorial que permite pensar o Brasil a partir de múltiplos olhares. Ao longo dessa década, o Grupo já passou por diferentes composições e hoje se reúne trimestralmente, em encontros virtuais, para debates estratégicos sobre o CIEDS e o setor. Atualmente, conta com 15 integrantes de diversas regiões do Brasil, representando o poder público, a iniciativa privada e organizações sociais.

Para marcar a década de existência, realizamos um encontro presencial especial, no qual refletimos sobre temas que atravessam toda a nossa atuação, como o território como locus de mudança e, também, como gerar prosperidade para todas as pessoas, especialmente sob os recortes de raça e gênero.

Um dos pontos centrais do debate foi a interseccionalidade. Mulheres negras periféricas, muitas vezes mães solo, estão na linha de frente da sobrevivência cotidiana, mas seguem invisibilizadas nas estratégias de investimento social. Como garantir que programas e políticas não apenas reconheçam esses marcadores, mas também sejam intencionais em criar condições para reduzir desigualdades estruturais?

Outro aspecto crucial é enfrentar a tentação das soluções genéricas. Sem personalização e diagnóstico cuidadoso, corremos o risco de reproduzir desigualdades dentro das próprias iniciativas. É preciso garantir que os recursos cheguem a quem realmente precisa, evitando que privilégios já estabelecidos se perpetuem.

Também emergiu no debate a necessidade de resiliência institucional. Num cenário global em que agendas como diversidade, equidade e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas sofrem retrocessos, cabe às organizações da sociedade civil e ao investimento social privado resistirem, mantendo essas pautas como norteadoras. Isso inclui tensionar conceitos, assegurar representatividade real em conselhos e lideranças e adotar métricas de equidade racial e de gênero como compromissos concretos.

Outro desafio é conciliar o discurso com a prática: muitas empresas avançam na retórica da diversidade, mas permanecem com conselhos e lideranças homogêneos. É nesse ponto que o papel de organizações catalisadoras, como o CIEDS, se torna essencial: articular setores, estruturar metodologias e criar pontes entre territórios, empresas e políticas públicas.

Por fim, o debate reforçou que criar oportunidades exige investimento de longo prazo, intencionalidade clara e múltiplas estratégias que se somam: formação e qualificação de grupos historicamente excluídos, mudança cultural nas instituições e fortalecimento de redes comunitárias. Só assim é possível diminuir a distância entre sonho e realidade e criar condições para um futuro mais justo, próspero e inclusivo.



Este artigo foi elaborado a partir da mesa "Como criar oportunidades para quem mais precisa?", realizada durante o encontro de 10 anos do Grupo Orientador do CIEDS. O debate foi conduzido por Ana Addobbati (Livre de Assédio), Guïbson Tôrres (Pacto de Promoção da Equidade Racial) e Renata Chagas (Instituto Neoenergia), em diálogo com demais participantes, mediadores e convidados.