Leonardo José Diretor de Programas e Projetos
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COP30: por que colocar as pessoas no centro da transição climática é urgente?

Artigo
10 novembro 2025
COP30: por que colocar as pessoas no centro da transição climática é urgente?

Participei recentemente de um encontro promovido pela Câmara de Comércio França-Brasil, que reuniu representantes de empresas, governos e organizações da sociedade civil para discutir o papel do setor privado diante da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

Se há algo que ficou evidente nessa conversa, foi a importância da escuta ativa. De ouvir as comunidades, compreender suas realidades e colocar as pessoas no centro das decisões sobre o futuro do planeta. Quem do resto do Brasil e do mundo está indo para Belém na COP, deve ir muito mais para ouvir, do que para falar.

Hoje começa a COP30, encontro da ONU sobre mudanças climáticas. Realizada em Belém, ela tem um valor simbólico e político enorme. Pela primeira vez, a Amazônia não é apenas cenário, mas protagonista. As comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas e urbanas da região se organizaram para participar, propor e marcar posição.

Isso é histórico. Estamos diante de uma COP que vai ter um espaço onde vozes antes periféricas estão sendo ouvidas e exigindo lugar à mesa.

Neste debate pré-COP, trouxe uma provocação: Quando ouvimos que a economia amazônica movimenta cerca de 120 bilhões de dólares por ano, precisamos perguntar: quanto desse valor fica na própria Amazônia? Quanto é reinvestido no desenvolvimento das comunidades que garantem a existência da floresta? A justiça climática começa por essa pergunta. 

A transição energética não pode ser apenas tecnológica; ela precisa ser territorial, social e humana. As comunidades que cuidam da floresta, que preservam e produzem conhecimento há séculos, são também as que mais sofrem os efeitos da crise climática — e, paradoxalmente, as que menos acessam os recursos destinados a combatê-la.

Como sociedade civil organizada, nosso papel é garantir que essas vozes não sejam esquecidas. É assegurar que as práticas sustentáveis, baseadas em saberes locais e ancestrais, sejam reconhecidas e financiadas como soluções legítimas de desenvolvimento. E isso exige diálogo constante, participação e escuta ativa — três pilares sem os quais não há transição justa possível.

No CIEDS, acreditamos profundamente nesse caminho. Trabalhamos para articular governos, empresas e comunidades em processos inclusivos e colaborativos, que transformem discurso em prática e compromisso em legado. Essa prática precisa ser urgente, mas também sensível, capaz de reconhecer que a floresta em pé só existe porque há pessoas que a defendem.

A COP30 representa uma oportunidade única para o Brasil reafirmar esse compromisso.

Que este seja o marco de uma nova forma de agir: ouvindo mais, construindo junto e garantindo que o desenvolvimento chegue a quem precisa.