Vandré Brilhante Diretor-Presidente
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25 anos: CIEDS era o negócio da minha vida e hoje é o de muitas vidas

Artigo
14 março 2023
25 anos: CIEDS era o negócio da minha vida e hoje é o de muitas vidas

Em maio de 1998, quando criei o CIEDS, havia uma motivação muito forte de construir um futuro melhor, não só para mim, mas para a cidade do Rio de Janeiro, que era onde eu vivia na época. Criar a instituição só foi possível porque eu estava junto da Diolinda, do Marcelo e da Valdíria. Discutíamos juntos a necessidade de uma organização com a cabeça mais próxima das comunidades, do público que de fato estava sofrendo mais com os efeitos da pobreza. Nós éramos jovens na época e tínhamos essa vontade de mudar e de viver em um mundo melhor, com a necessidade de estar junto da aspiração das pessoas. 

A gente resolveu criar o CIEDS tomando um chopp, numa mesa de bar. Lembro bem que a ideia do nome veio de semente em inglês, que é "seeds". Pensávamos: como podemos criar iniciativas que vão semear? Não adianta fazer um projeto social numa comunidade e depois ir embora. A ideia era que o CIEDS deixasse um legado por onde passasse.

"Seeds", então, virou CIEDS.

O lema desses 25 anos, "Gente Junto é Agente", é emblemático porque representa também tudo isso que eu passei. Comecei eu. E agora sou a gente. Eu apostei que o CIEDS seria o negócio da minha vida. E hoje o CIEDS é o negócio de muitas vidas.

Somos, cada vez mais, uma das mais importantes organizações do Brasil, pela questão da proximidade, de fortalecer o tecido social, os espaços de participação e democracia e as organizações de base comunitária. Ao longo desses 25 anos, realizamos muitas iniciativas, das menores às mais grandiosas: formação, diploma, política de abrigos, atendimento socioassistencial, cesta básica. Isso mudou o rumo de muita gente que talvez estava sem esperança e passou a tê-la. Precisamos sempre resgatar essa essência, sem perder o horizonte atual, de um mundo que se transforma rapidamente. Isso nos torna mais únicos, mais unidos e mais fortes.

Considero que a gente teve um sucesso enorme até aqui. Construir essa organização, com a rede de colaboradores interna e externa que nós temos, foi algo único. Conseguimos criar uma instituição grande, que tem uma base muito sólida, graças à reputação e à boa prática. Hoje temos um olhar mais experiente, é claro, mas acredito que é uma instituição que deu certo há 25 anos e que vai dar certo pelos próximos 25 anos.

Digo isto porque o que se exige de nós hoje é o que se exigiu em 1998. Empreendedorismo acima de tudo. Audácia – mas não no sentido pejorativo, e sim no aspecto de inovar, de propor, de dizer "não" e de chegar na frente com tecnologias sociais. A gente tem que olhar onde estão os principais problemas da sociedade e quais soluções podemos aportar, com a nossa experiência e construindo em rede com nossos parceiros. Isso poucas organizações no mundo conseguem fazer.

Os problemas sociais aumentaram, e não simplesmente porque há mais conectividade e comunicação. Aumentaram porque a população aumentou, o índice de pobreza aumentou, a violência aumentou. Nesse contexto, a problemática é mais complexa. Há 25 anos, a gente tinha uma abordagem mais direcional, em campos como saúde, educação, geração de renda. Hoje, ela precisa ser integrada. Tem que incluir cultura, bem estar, diversidade. A complexidade do trabalho é maior. Por isso digo que o espaço de atuação precisa ser compartilhado, para ser mais efetivo diante dessa pobreza complexa. Sozinho, a gente não vai resolver nenhum problema. O desafio é gigantesco e a gente precisa atuar em conjunto.

Enxergo que a primeira década do CIEDS foi para construir a si mesmo, definir quais eram as causas prioritárias, as metodologias e a cultura organizacional. A segunda década foi para nos consolidarmos e fundamentar o que construímos. Foi quando começamos a atuar mais em rede, mais preocupados com o contexto e com o terceiro setor. Agora, nesta terceira década, com o próprio caminho já fortalecido, o CIEDS vem para consolidar a rede. A gente só existe e só existirá se atuar em rede e, mais do que isso, fortalecendo essa rede, principalmente de pequenas organizações e coletivos.

Vejo daqui a 25 anos um CIEDS formado por núcleos em todo o Brasil, que se integram e atuam em um objetivo comum, para ter maior efetividade. Também vejo o CIEDS atuando ainda mais próximo dos grandes desafios globais. Hoje, atuamos de forma local, olhando para problemas do entorno, das periferias. Para frente, podemos atuar respondendo de forma rápida a ações humanitárias emergenciais e também de forma preventiva, como por exemplo com educação ambiental, visto que a crise climática já não pode esperar.

Seja em 1998 ou em 2023, os desafios seguem sendo enormes. Mas faria tudo outra vez. Que venham os próximos 25 anos!

Foto: Vandré Brilhante está ao lado da equipe do CIEDS que atuou em Mutarara, Moçambique.