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O Brasil que vemos e o Brasil que queremos

Notícia
11 abril 2018
O Brasil que vemos e o Brasil que queremos

Na semana passada o país instituiu a nova base curricular para o ensino médio. Toda nação que tenha como foco um desenvolvimento que seja justo e democrático em uma perspectiva de médio e longo prazo teria neste processo o foco central de todas as narrativas nas mídias e discussões.
 
O que vemos no Brasil? A notícia em páginas secundarias de grandes jornais.
 
O que discute a nação? Corrupção, crise no STF, escândalo de políticos, assassinatos e mais assassinatos país afora, em situações de polarização sem fim. São essas situações que dominam a narrativa nas mídias e nas redes sociais.
 
Isso pode Brasil? E o que vem a seguir? Mais notícias iguais. Ora sobre violência, ora crises políticas e econômicas. Muitos de nossos congressistas bravejam campanhas moralistas e reformadoras, mas se rendem a demagogia e retóricas, quiçá a interesses próprios, esquecendo o bem comum.
 
Sindicatos perdem-se em pautas individuais à mercê de um compromisso efetivo com o futuro do trabalho e dos trabalhadores. Muitos movimentos sociais reforçam uma concepção polarizada, dedicando-se as agendas de esquerda ou direita, sem de fato pensar, coletiva e conjuntamente à sociedade, um projeto de longo prazo para o país. Municípios culpam os estados pelo aumento da violência. Estados culpam o país por suas falências.
 
A classe média brasileira se blinda em carros e em casas, culpa os pobres e negros pela violência e sonha mudar para o exterior, onde possa viver em paz. São os familiares e amigos desta dita classe média que ocupam cargos públicos e/ou que são empresários que reforçam as desigualdades sociais e que muitas vezes até compactuam com sistemas corruptos.
 
Ninguém discute uma proposta real de futuro para o Brasil, proposta que tenha como visão um futuro mais digno e próspero para todos.
 
E o que o ensino médio tem a ver com isso? Será que tem?
 
Vamos nós cidadãos, ditos educados e atuantes, continuar discutindo a importância da educação apenas em seminários fechados e elitizados? Vamos continuar expondo nosso maior recurso - nossos jovens, que tem potência para construção de um Brasil melhor para todos – a subempregos, a escolas que possuem recursos limitados e grandes desafios para um ensino contextualizado aos dias de hoje e a professores com baixos salários e processos de formação desalinhados às reais necessidades dos estudantes?
 
Seguir narrando aqui sobre os tristes dados do ensino médio brasileiro é desnecessário. Basta perguntar e mesmo tentar ver como vivem e com o que sonham os jovens de periferia do Brasil. Infelizmente não sonham com uma nação melhor, porque nossa nação não os sonha para seu futuro.
 
O avanço da nova base curricular do ensino médio é um passo nesse caminho. Traz à cena a responsabilidade dos governantes para com seus mandados e para com o futuro. Dá significância ao ato de governar, independentemente de partidos, interesses econômicos e crenças religiosas. Traz um projeto de nação, que para ser efetivado precisa da corresponsabilidade sua, minha e de todo o Brasil. Muitos dizem que não houve debate público adequado na sua formulação. Entretanto, o processo se arrasta há vários anos, mas houve pouco interesse da nação, dos governantes, da mídia, dos “ativistas sociais do Facebook” em discutir, em debater.
 
A escola, especialmente a pública, está fora da esfera de interesse coletivo de grande parte dos brasileiros. Não é vista como instituição, não é alvo de ações por melhoria do ministério público, não é discutida nas novelas - é apenas citada nos promessas eleitorais.
 
Jogar a culpa dos problemas do Brasil na crise social, institucional e política do momento é o mais fácil e oportunista. Gerar lideranças de momento, tal qual pop stars, divisão social e um sentimento de que a culpa é dos outros e não minha também não me parece o caminho adequado. Esquecer-se de preparar o futuro com uma juventude crítica, autônoma e engajada política e civicamente é um dever de nação que cabe a todo e qualquer cidadão – pobre ou rico, de direita ou de esquerda.
 
Daí pergunto, qual a parte do futuro que nos cabe? Essa é a grande questão a ser discutida – na hora de votar, na hora de postar em redes sociais, na ética do dia a dia.
 
Participação e engajamento cívico é torcer e fazer pelo melhor do Brasil. Prover e garantir a confiança no futuro é a essência da existência de qualquer nação. É o elementar, é o que dá sentido a sua constituição. Nós, Brasil, precisamos resgatar e promover essa confiança. Considerar o que realmente é importante para construir um futuro justo e melhor. Tomar partido pela ética nos pequenos e grandes atos, respeitar e valorizar a nossa diversidade, educar a todos para um futuro complexo, mas que possa ser vivido com civilidade e compromisso com proposta de nação, com jovens em escolas de qualidade e acima de tudo, com uma sociedade ativa e corresponsável pela construção cotidiana do Brasil. 

Precisamos ter a coragem de arriscar para construir um Brasil melhor do que é hoje. Essa construção só será possível se sairmos da lógica de polarização e pensarmos juntos no que temos individualmente e de que modo podemos, com o que temos, contribuir para com o que sonhamos coletivamente – uma sociedade mais justa e mais democrática.  
 
 
Vandré Brilhante