Ouvir o outro lado da história: ótimo exercício democrático

Quase sempre quando anunciamos que trabalhamos em uma ONG as pessoas se espantam. Virou notícia corriqueira nos últimos anos o envolvimento dessas instituições por todo o Brasil em escândalos governamentais e não-governamentais

ONGs são chamadas de instituições laranjas e seus produtos são tratados como ficção. Mais recentemente, essas organizações foram tratadas como instrumentos de arrecadação de fundos ilícitos para políticos e desvio de impostos por empresas. O problema não são as ONGs, e sim alguns de seus gestores que agem de má fé aproveitando de um instrumento social que, ao longo de décadas, tem prestado um enorme serviço à sociedade do Brasil e de todo o mundo.  Serviços esses que atendem à demanda do enorme custo social.

Vale refletir: quem mantém os asilos? Quem se encarrega de implementar programas de prevenção de drogas ou abuso sexual de crianças? Quem denuncia o desmatamento de florestas ou o assassinato de líderes comunitários? Quem se presta a desenvolver pesquisas para incluir socialmente analfabetos, famílias com pobreza crônica ou dependentes químicos?  Poderia listar uma série expressiva de outras contribuições.

É fato que a boa gestão de uma ONG exige transparência e competência diante da diversidade de legislações que as regem.  Mas só isso não basta.  Hoje é preciso trabalhar com modelos de prestação de contas, nas quais são aplicados legislações municipais, estaduais e federais que não se comunicam entre si.  Essa variação traz brechas para agentes de má fé que em nome do trabalho social burlam, corrompem e privatizam seus interesses.  Em quase todos os países desenvolvidos essas instituições contam com inúmeras isenções e reconhecimento.

Hoje empresas fazem propagandas ressaltando o seu valor social porque passaram a vender seus produtos para os pobres.  Durante anos, estas viraram as costas para esse mercado e continuaram a financiar governantes que nada fizeram para reverter a pobreza.  Dizer agora que o pobre tem vez porque paga pela energia elétrica ou recebe encomenda pelo correio é no mínimo hilário.  Os governos estaduais descobriram que a inclusão social de favelas ao mundo do asfalto gera mais riqueza para as cidades através da arrecadação de mais impostos.  Os anos de trabalho árduos e solitários de ONGs em morros e favelas são desconsiderados e denegridos. Acham que a mão invisível do mercado operou um milagre sozinho.

Empresas e governos agora acordaram para a melhoria dos indicadores sociais, em especial a educação porque já falta mão de obra qualificada para apoiar o crescimento.  A formação profissional de um jovem é ineficiente se não tiver estudado em boa escola. Falta base para o desenvolvimento e aprendizagem.  Quem, mais uma vez, atua pelo Brasil com programas de educação? Centenas de ONGs e voluntários.

Nossos governos operam estruturas pesadas e deficitárias.  A parceria com instituições sociais com fins específicos se faz urgente para consolidar o crescimento econômico e colocar o Brasil num patamar digno, não pelo seu PIB concentrado nas mãos de poucos, mas num patamar onde sua população possa viver com mais oportunidades, dignidade, boa saúde e educação. ONGs desenvolvem iniciativas construtivas sim e nós temos dever moral de nos colocarmos como parte na solução dos problemas sociais do Brasil apoiando iniciativas sérias e transparentes que trazem resultados e melhores perspectivas.

Autor: Vandré Brilhante - Economista e Diretor-Presidente do CIEDS